29.11.2025 às 09:17h - Geral

Mais de 3,5 milhões de brasileiras sofreram violência doméstica ou familiar em 2025

Ricardo Orso

Por: Ricardo Orso São Miguel do Oeste - SC

Mais de 3,5 milhões de brasileiras sofreram violência doméstica ou familiar em 2025
Foto: Divulgação, NSC Total

O caso de Catarina Kasten, morta em uma trilha de Florianópolis no dia 21 de novembro, escancarou a violência de gênero no Brasil. Nesta semana, o cenário alarmante também ficou evidente com a divulgação do dado de que 3,7 milhões de mulheres foram vítimas de violência doméstica e familiar em 2025. A estatística faz parte da Pesquisa Nacional de Violência contra a Mulher, divulgada nesta quinta-feira, 27, pelo DataSenado.

O levantamento, que completa 20 anos e se tornou a mais longa série histórica do país sobre o tema, ouviu mais de 21 mil mulheres entre maio e julho deste ano. Conforme a pesquisa, 17% das vítimas de agressão conviviam com o agressor no momento da entrevista. As agressões costumam começar cedo: a maior parte das entrevistadas (38%) disse que foi agredida pela primeira vez até os 19 anos.

Ainda, 33% vivenciaram ao menos uma das violências apresentadas na pesquisa, mas parte delas não se reconhece como vítima na pergunta direta.

Maioria das agressões ocorrem na frente de crianças

Entre as vítimas de violência no último ano, 71% afirmaram que havia crianças presentes durante a agressão, das quais uma parcela significativa eram filhos e filhas das vítimas. Além disso, a violência costuma ser recorrente: seis em cada 10 mulheres relatam que as agressões ocorrem há menos de seis meses, enquanto 21% afirmam conviver com episódios há mais de um ano.

O DataSenado também investigou a presença de outras pessoas no momento das agressões: em 40% dos casos, nenhuma testemunha ofereceu ajuda. A violência digital também ganhou destaque: 10% das mulheres afirmaram ter sofrido algum tipo de agressão on-line ou por meios eletrônicos, como mensagens ofensivas recorrentes, criação de perfis falsos ou invasão de contas.

Os dados foram divulgados em celebração aos 20 anos do “Disque 180”, número do Governo Federal para denúncias de violência doméstica contra a mulher. Em 2005, os dados da Pesquisa Nacional de Violência contra a Mulher contribuíram para a discussão do projeto da Lei Maria da Penha, considerada referência mundial em legislação de proteção à mulher.

Índices de feminicídios não diminuem em SC

Catarina entrou para uma triste estatística de mulheres vítimas de feminicídio em Santa Catarina. Somente entre janeiro e outubro deste ano, segundo o Observatório da Violência Contra a Mulher, 38 mulheres foram assassinadas em razão de gênero. Em novembro, conforme a Polícia Civil, nove pessoas foram vítimas deste tipo de crime no Estado, tornando-se o mês mais letal para as mulheres em 2025.

Feminicídio por ano em SC

- 2020 – 57

- 2021 – 55

- 2022 – 57

- 2023 – 57

- 2024 – 51

Com 47 feminicídios entre janeiro e novembro, as estatísticas se aproximam para que Santa Catarina termine 2025 com números semelhantes aos dos últimos anos. Para a promotora de Justiça e coordenadora do Núcleo de Enfrentamento à Violência Doméstica e Familiar e contra a Mulher em razão de gênero, Chimelly Marcon, a tendência demonstra que o Estado ainda precisa enfrentar a raiz do problema.

— A raiz é estrutural: estamos lidando com um fenômeno que nasce da desigualdade de gênero, de relações de poder assimétricas e da naturalização da violência contra as mulheres. Se, por um lado, o Ministério Público, a segurança pública e a rede de proteção têm ampliado suas ações, por outro, o que vemos é que o ciclo da violência continua se reproduzindo em grande escala, levando mulheres a situações de risco extremo. Isso exige de todos os órgãos – e da sociedade – um compromisso renovado: respostas mais rápidas, políticas públicas mais robustas, avaliação de risco efetiva e investimento permanente em políticas de prevenção — diz.

A promotora de Justiça também ressalta que crimes como o de Catarina — que ocorrem dentro de espaços públicos como praias, trilhas e ruas — não podem ser usados para responsabilizar a própria mulher ou para reforçar discursos de que “mulheres não deveriam circular sozinhas”. Pelo contrário, o caso demonstra que o Estado precisa investir em políticas inteligentes de prevenção, iluminação adequada, monitoramento, atuação das forças de segurança e campanhas de cuidado coletivo.

— O que precisamos afirmar, com clareza, é que as mulheres têm direito de ocupar todos os espaços com tranquilidade, dignidade e segurança. A resposta não é proibir mulheres; é garantir que elas possam viver plenamente, sem medo. É responsabilidade do Estado e da sociedade criar condições para isso —declara Chimelly.

Em casa ou nas ruas, as mulheres catarinenses estão entre as que mais morrem por serem mulheres no Brasil. É o que diz a presidente da Comissão Nacional de Combate à Violência Doméstica da OAB Nacional, Tammy Fortunato, ao afirmar que Santa Catarina está no top 10 entre os estados que mais comentem feminicídio.

Fonte: NSC Total

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