16.06.2025 às 20:47h - Geral
A segurança nuclear é uma preocupação em meio aos bombardeios de Israel contra centrais do programa atômico do Irã, durante o acirramento do conflito entre os dois países do Oriente Médio. A afirmação veio do diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Rafael Grossi, nesta segunda-feira (16).
Grossi também alertou para o risco de contaminação radiológica e química dentro da principal instalação de enriquecimento de urânio iraniana, a central nuclear de Natanz, um dos alvos dos ataques israelenses. As informações são de O Globo.
— Pela segunda vez em três anos, estamos testemunhando um conflito dramático entre dois Estados-membros da AIEA, no qual instalações nucleares estão sendo atacadas e a segurança nuclear está sendo comprometida — alertou Grossi durante uma reunião extraordinária em Viena nesta segunda-feira.
Na reunião desta segunda-feira, Grossi traçou um paralelo com o conflito entre Rússia e Ucrânia, em que a maior usina nuclear da Europa, em Zaporíjia, ficou na linha de tiro em diferentes momentos da guerra.
Os danos provocados pelos bombardeios israelenses às instalações nucleares iranianas foram limitados, conforme avaliação da AIEA nesta segunda-feira. A usina de Bushehr, no oeste do país, não foi alvo de nenhum ataque, e a central nuclear de Fordow, a mais bem protegida do Irã, localizada no interior de uma montanha perto da cidade de Quom, não sofreu nenhum impacto.
O cenário mais preocupante, então, é na instalação de Natanz, principal central de enriquecimento de urânio do país, onde os relatos sobre a extensão dos danos diverge.
Segundo Grossi, um componente-chave na superfície de Natanz foi destruído durante o bombardeio israelense. Apesar disso, nenhum impacto significativo teria sido identificado nas partes subterrâneas da central, onde as centrífugas de enriquecimento de urânio estão instaladas.
— Não houve danos adicionais na usina de enriquecimento de combustível de Natanz desde o ataque de sexta-feira. Não há indícios de ataque físico ao salão subterrâneo da cascata [onde o urânio estava sendo enriquecido], embora a queda de energia possa ter danificado as centrífugas ali — disse o chefe da agência.
Mas o relato de Grossi diverge do apontado pelas autoridades em Israel, que afirmam que Natanz sofreu um dano extenso. No domingo (15), o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, afirmou que a instalação havia sido destruída em um bombardeio.
Já uma fonte de segurança ouvida sob condição de anonimato pelo jornal israelense Haaretz afirmou, nesta segunda-feira, que informações de inteligência indicam que danos significativos foram impostos aos pisos subterrâneos de Natanz.
Mesmo com as divergências quanto ao nível de danos, a AIEA diz que o nível de radioatividade fora da usina permanece inalterado e em níveis normais, indicando ausência de impacto radiológico externo desde os ataques da última sexta-feira (13). O risco, segundo Grossi, é de que haja um vazamento de radiação ou de químicos no interior da instalação. Isso representaria um perigo para quem está diretamente em solo no local, em caso de inalação ou ingestão.
Na sexta — noite de quinta-feira em Brasília —, quando Israel lançou o que classificou como um “ataque preventivo” contra o Irã, o país apontou como principal alvo o programa nuclear iraniano, acusando a nação persa de tentar desenvolver armas nucleares. Naquele mesmo dia, Grossi pediu pediu que as partes exercessem o máximo de contenção e disse que instalações nucleares “nunca devem ser atacadas”.
Por que Natanz é peça-chave do programa nuclear do Irã?
Natanz fica a cerca de 220 quilômetros a sudeste de Teerã, capital iraniana. Ela é uma peça-chave do programa nuclear do país, que o regime dos aiatolás afirma ter fins pacíficos.
Até o momento, ela contribuiu para a ampliação da produção de urânio a 60% — um nível de pureza muito acima do necessário para a maior parte do uso civil. As usinas nucleares, por exemplo, normalmente usam urânio enriquecido de 3% a 5%.
Nos últimos anos, o enriquecimento de urânio no Irã vem crescendo em ritmo acelerado, apontam relatórios da própria AIEA. Em maio do ano passado, um dos documentos apontou que o país havia obtido 408,6 quilos de urânio a 60%, tendo produzido 133,8 quilos em três meses. Já em março de 2023, a agência notificou ter encontrado “partículas” de urânio enriquecidas com 83,7% de pureza.
Apesar do enriquecimento de urânio para uma bomba no padrão das produzidas por EUA e Rússia precisar ser de 90%, o salto de enriquecimento de 60% para 90% pode acontecer “em um período muito curto”, na avaliação de pesquisadores do Instituto Internacional para Estudo da Paz de Estocolmo (Sipri, na sigla em inglês). Um ensaio publicado em 2021 — quando o enriquecimento do urânio iraniano começou a chamar a atenção das autoridades — apontou que as centrífugas utilizadas no processo são projetadas para trabalhar em etapas, que podem ser concluídas rapidamente, neste caso.
Preocupação imediata da AIEA se torna ataques nas instalações
Mesmo que, inicialmente, a preocupação da AIEA fosse os desdobramentos do programa iraniano — incluindo uma resolução aprovada na quinta-feira (12) contra o Irã por incumprimento de suas obrigações de não proliferação nuclear —, agora, a preocupação imediata se voltou aos ataques sofridos pelas instalações.
Representantes da Rússia, China, Paquistão, Iraque, Bielorrússia, Burkina Faso, Cuba, Indonésia, Nicarágua, Venezuela e Irã na AIEA assinaram uma declaração conjunta que enfatiza que qualquer ataque armado ou ameaça contra instalações nucleares dedicadas a fins pacíficos constitui uma violação dos princípios da Carta da Organização das Nações Unidas (ONU), do direito internacional e do estatuto da agência.
Em Viena, Grossi disse que a AIEA “não ficaria de braços cruzados durante esse conflito” e prestaria assistência ao Irã.
Fonte: NSC Total
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