07.10.2025 às 08:42h - atualizado em 07.10.2025 às 08:44h - Santa Catarina

SC terá eleição histórica em 2026 com 1 milhão a mais de eleitores e novo perfil

Ricardo Orso

Por: Ricardo Orso São Miguel do Oeste - SC

SC terá eleição histórica em 2026 com 1 milhão a mais de eleitores e novo perfil
Foto: Tiago Ghizoni, Arquivo, NSC

A rotina da advogada e empresária Andrea Sessim se divide entre o empreendedorismo e a rotina doméstica. Moradora de Balneário Camboriú, no Litoral Norte de Santa Catarina, ela percebe que a política não está presente apenas no dia da eleição, mas também nos pequenos afazeres da rotina diária, como fazer compras no supermercado.

—A política é o nosso dia a dia. É no supermercado que a dona de casa sempre está acompanhando os preços e o orçamento familiar. Então, eu não encaro a política só como um partido político, né? A política é um todo — afirma.

Aos 52 anos, a empreendedora representa o perfil do eleitorado catarinense: mulheres, brancas, na faixa entre 40 e 60 anos e com o ensino médio completo, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) até agosto de 2025.

Inclusive, o eleitorado em Santa Catarina vem crescendo ano após ano. Dados de 2010, por exemplo, apontam que 4.538.981 pessoas estavam aptas para votar no Estado. Em 2022, ano do último pleito para escolha de presidente, governador, deputados e senadores, este número saltou para 5.489.658 — ou seja, um crescimento de 20,94%. Já para 2026, as projeções do Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina (TRE-SC) é de que a quantidade de novos eleitores cresça em 1,1 milhão.

Outro ponto é que o perfil também mudou. Se em 2010, a maioria dos eleitores tinha entre 25 e 29 anos (551.483) e o ensino fundamental incompleto (1.583.960), em 2022 a idade média era de 35 a 39 anos (575.587) e 26,08% tinham o ensino médio completo (1.431.455). Isso sem contar a entrada dos novos eleitores, que chegaram a Santa Catarina nos últimos anos devido ao intenso fluxo migratório — em 10 anos, mais de 600 mil pessoas de outros estados mudaram o domicílio eleitoral para as cidades catarinenses.

— As mudanças demográficas que têm alterado o padrão do eleitorado brasileiro são tendências nacionais, que tem se observado nos últimos censo demográficos. É a mesma coisa a questão do envelhecimento da população. Ou seja, são fenômenos que os cadastros eleitorais acompanham — pontua o professor de Sociologia e Ciência Política da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Julian Borba.

Porém, nas últimas décadas, Santa Catarina não mudou apenas a “aparência” do seu eleitorado, mas também a forma como o catarinense passou a se comportar na hora de decidir quem serão os representantes, tanto em âmbito federal quanto local. Em 2024, por exemplo, quando os catarinenses foram às urnas para eleger prefeitos e vereadores, o conservadorismo, puxado pelo PL, ganhou protagonismo com a sigla garantindo 90 prefeituras, sendo três das dez maiores cidades do Estado: Blumenau, Itajaí e Palhoça. O crescimento foi de 221,42% em relação a 2020, quando, naquele ano, o partido fez 28 chefes do executivo, conforme o TSE.

— Santa Catarina se parece muito, principalmente, com o comportamento do interior do Paraná, mas também do Mato Grosso do Sul. Tem ali duas influências econômicas que são parecidas com as deles. E isso constrói um eleitor muito mais conservador, mais à direita, que não tem nenhum tipo de problema em se identificar dessa maneira e em defender pautas como o empreendedorismo, uma visão mais liberal sobre a economia e uma visão mais crítica em relação ao papel do Estado de uma forma geral — analisa Felipe Nunes, cientista político e diretor da Quaest.

Quem são e o que pensam os eleitores

Era 2 de dezembro de 1889 quando Lauro Müller, do Partido Republicano Catarinense, se tornou a primeira pessoa a governar Santa Catarina no Período Republicano. A escolha, no entanto, foi diferente daquela que conhecemos nos dias atuais, já que foi feita por meio de um decreto do então presidente Deodoro da Fonseca. Depois, foram mais cinco anos até que alguém virasse Presidente de Santa Catarina (nome dado ao cargo de governador na época) por meio do voto. O escolhido foi o engenheiro Hercílio Luz, também do Partido Republicano Catarinense, que assumiu o cargo em 28 de setembro de 1894.

De lá pra cá, Santa Catarina elegeu 45 governadores, sendo 31 pelo voto direto. Porém, se no início do processo democrático o direito ao voto era restrito a homens com mais de 21 anos, que não fossem analfabetos, religiosos ou militares, mais de um século depois o cenário mudou.

Dados do TSE apontam, por exemplo, que das 5.489.658 pessoas aptas a votar em 2022, 52% eram mulheres (2.849.469); a idade média era de 35 a 39 anos (575.587); 26,08% tinham o ensino médio completo (1.431.455); e 53% eram solteiros (2.884.465).

— A composição do eleitorado catarinense e as mudanças dele seguem um padrão demográfico nacional que a gente observa nos últimos anos. Quando a gente compara, por exemplo, as últimas três eleições, têm um aumento da escolarização média do eleitorado, um envelhecimento do eleitorado. No entanto, algumas questões persistem em que pesam essas mudanças. Uma delas são as desigualdades educacionais, ou seja, uma parcela considerável ainda do eleitorado, por exemplo, está localizada na faixa de escolaridade até o ensino fundamental — explica Julian Borba, professor de Sociologia e Ciência Política da UFSC.

No entanto, para o mestre em Sociologia Política e professor da Universidade do Vale do Itajaí, Roberto Wöhlke, a alteração no perfil do eleitorado catarinense pouco se refletiu nos resultados das urnas.

— É um perfil extremamente conservador no sentido político. Isto é muito tradicional e vem do nosso próprio histórico, do processo de colonização e também das chamadas famílias políticas de Santa Catarina. Desde a província até a fase republicana, nós tivemos famílias que dominaram o cenário político. Então, se manteve nesse foco mais tradicional e conservador. E isso aumentou nos últimos tempos por uma série de fatores. Mas nós vamos ver também, por outro viés, que Santa Catarina tem esse perfil porque também é predominante masculina. A maioria dos candidatos, que dominam a política, ainda são homens, mesmo que os dados mostrem que houve nas últimas três eleições a mudança do perfil — destaca.

A ascensão do conservadorismo

Agora, do ponto de vista ideológico, Santa Catarina viveu uma enorme mudança nas últimas décadas. O cientista político e diretor da Quaest, Felipe Nunes, relembra que, no início dos anos 2000, o Estado tinha núcleos onde a votação para partidos de esquerda era expressiva. Um exemplo é se levar em conta as eleições de 2002, quando ao menos 31 municípios deram vitória a Fritsch, candidato do PT no primeiro turno das eleições para governador — entre eles Chapecó, Criciúma e Itajaí. Já Ideli Salvatii, do mesmo partido, quebrou o recorde de votos para o senado na época, com 1.054.304.

Porém, a partir de 2006, o conservadorismo e a direita foram ganhando ainda mais espaço em Santa Catarina, principalmente por dois fatores: a entrada dos valores morais como influência na hora da decisão e a questão econômica, esta última puxada principalmente pelo agronegócio.

— De 2006 para cá, a gente viu crescer no Brasil a polarização, principalmente afetiva, aquela em que a gente contrapõe os lados nem tanto como adversários, mas a partir dos nossos valores. Nós estávamos habituados a discutir no Brasil questões como privatização e o papel do mercado do Estado na economia, e nós passamos a discutir valores, e quando os valores passaram a entrar na mesa de debate político, o catarinense acabou tomando um lado diferente do que vinha tomando até 2002. A outra é a própria influência econômica. E quando a gente combina a mudança da política nacional com os efeitos das crises econômicas que acabaram impactando de maneira significativa Santa Catarina [nos anos 2000], a gente entende bem como é que houve essa ruptura de um Estado que votava majoritariamente até 2002 no PT, para um Estado que virou majoritariamente antipetista depois de 2006 — complementa Nunes.

Isto fica ainda mais evidente ao considerar os resultados das últimas eleições gerais. Na disputa para governador, o candidato do PL, Jorginho Mello, garantiu a vitória em 280 municípios catarinenses, enquanto Décio Lima, do PT, ganhou em 15. Já para presidente, Lula (PT) venceu 20 prefeituras, enquanto Bolsonaro (PL) levou em 274, conforme dados do TSE.

Radiografia do eleitorado de SC

A série de reportagens “Radiografia do eleitorado de Santa Catarina” é uma parceria entre o NSC Total e a NSC TV. Divido em três matérias, o especial mergulhou, com o apoio de dados, nos detalhes do eleitorado de Santa Catarina, suas características e o peso que o eleitor tem nas escolhas para cargos públicos, já mirando as eleições de 2026.

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