05.12.2025 às 08:49h - Santa Catarina
Os produtores de leite da região de Xanxerê, se reuniram na manhã desta quinta-feira, 4, para protestar contra a crise do leite que atinge o setor no Estado. Eles afirmam que o excesso de leite importado, principalmente da Argentina e do Uruguai, provoca uma concorrência desleal e agrava a situação financeira de centenas de famílias que vivem da bovinocultura leiteira catarinense.
Depois da ordenha feita ainda antes do amanhecer, Tiago Poletto e Valéria Ioras deixaram a propriedade para se juntar ao ato. O casal, de Xanxerê, disse que continuar no setor tem se tornado cada vez mais inviável.
“A situação hoje do produtor de leite está muito difícil. Se continuar assim, a gente vai pensar até em abandonar a atividade. É difícil trabalhar o mês inteiro, chegar na hora de pagar as contas e faltar dinheiro. E não é só comigo, é com muitos que estão aqui”, disse Tiago.
Segundo eles, o futuro da família no campo tem sido tema recorrente nas conversas. A possibilidade de deixar a bovinocultura, antes impensável, agora é cogitada com frequência.
“A gente tá quase pagando para trabalhar”, afirmou Valéria. “Não fecha as contas, não sobra dinheiro para praticamente nada. Às vezes precisamos vender boizinhos para cobrir os furos e fazer o giro.”
A insatisfação é generalizada entre os produtores que ocuparam o trevo da FEMI, em Xanxerê. No ato, a principal crítica recai sobre a política comercial brasileira para o setor. “O juro para o setor está muito alto. Não tem viabilidade de pagamento, então ninguém mais investe”, avaliou Eleandro Arsego, um dos organizadores.
Os produtores afirmam que, em países europeus, a atividade é subsidiada e os agricultores recebem incentivos para permanecer no campo, algo que, segundo eles, deveria ser referência para o Brasil.
Porém, no curto prazo, cobram medidas emergenciais: intervenção na política cambial e taxação do leite importado, sobretudo o leite em pó vindo do Mercosul.
Representantes da bancada catarinense na Alesc (Assembleia Legislativa de Santa Catarina) e na Câmara Federal também participaram do protesto. Para o deputado estadual Altair Silva, a pressão sobre o governo federal é essencial para frear o prejuízo no setor.
“Já está comprovada a prática de dumping, principalmente pela Argentina, vendendo leite aqui abaixo do preço praticado lá. Isso é proibido pelo comércio internacional”, afirmou o deputado.
“Estamos pressionando para que a taxação seja aplicada com urgência, para que o produtor renegocie dívidas e para que o governo faça uma grande aquisição de produtos, ajudando a regular oferta e demanda”, disse Altair.
A deputada federal Caroline de Toni também criticou o governo federal. Segundo ela, a demora em barrar as importações e viabilizar a renegociação das dívidas pode criar um problema social ainda maior. A avaliação dos parlamentares ecoa o sentimento dos produtores: sem mudanças rápidas, a permanência das famílias no campo está ameaçada.
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