05.03.2020 às 13:29h - atualizado em 05.03.2020 às 17:24h - Meio Ambiente

Projeto de Biogás de Itapiranga entra em funcionamento esse ano

Diógenes Di Domenico

Por: Diógenes Di Domenico São José do Cedro - SC

Projeto de Biogás de Itapiranga entra em funcionamento esse ano

Você já imaginou produzir proteínas, energia elétrica, adubos e ainda ajudar o meio ambiente? Esse projeto inovador, está sendo realizado em Itapiranga, Extremo Oeste de Santa Catarina. O projeto vai gerar energia para abastecer praticamente 600 residências.

O projeto de Biogás em Itapiranga recebeu a visita de pesquisadores, inclusive dos Estados Unidos. O município se consolida como referência em produção de energia elétrica a partir de dejetos suínos. Durante a semana uma equipe de pesquisadores acompanha o projeto de biodigestores na comunidade de Santa Fé Baixa, interior de Itapiranga.

Entre os profissionais está o norte americano Timothy Silberg, que realiza trabalho de pesquisa para a Universidade Federal de Santa Catarina. Também está presente a consultora em biogás, energia e sustentabilidade e representante da Rede de Biodigestores para América Latina e Caribe,Leidiane Ferronato Mariani.

O projeto de biogás é de iniciativa dos produtores que buscam alternativas para a sustentabilidade das propriedades que atuam na suinocultura. O projeto P14 Biogás Itapiranga é desenvolvido em parceria com universidades, Eletrosul, Annel entre outros.

A pesquisadora Leidiane diz que a principal diferença é a liderança dos produtores rurais, sem interferência de grandes empresas. Ela considera que os produtores rurais possuem interesse em maior sustentabilidade ambiental e financeira com longa duração. Leidiani reconhece que o desafio da suinocultura é utilizar os dejetos que costumam ser problemas e transformar em insumo e ainda gerar energia e aumentar a renda.

Leidiane informa que são 30 projetos de referência em Santa Catarina com produção de biogás para geração de energia elétrica, térmica ou abastecimento de carros. No Brasil são mais 500 projetos que utilizam até aterros sanitários para aproveitar o gás nestes locais e produzir energia elétrica.

A pesquisadora aponta a agropecuária como setor de grande potencial para geração de energia elétrica. Suinocultura possui maior exploração, porém na bovinocultura de leite também ocorre aproveitamento dos dejetos para uso em Biodigestores. Ela diz que a matriz enérgica nacional tem importante reforço ao sistema tradicional de hidrelétrica, crescimentos de projetos de energia eólica, biogás e solar.

Inauguração e funcionamento

A inauguração da Central de Biogás será nos próximos meses e desperta o interesse de produtores em saber mais sobre o biogás. Além de uma renda extra, a produção de energia pode proporcionar economia em torno de R$ 15 mil na conta de luz por mês de uma granja de grande porte como ocorre em Santa Fé Baixa.

Modelos de biodigestores alemão tem menor custo no projeto em Itapiranga. A pesquisadora informa que realiza estudo de mercado e está no município por considerar um projeto inovador no Brasil. Ela lembra que ocorre o transporte do gás e não do dejeto para a usina, pois cada propriedade tem sistema para geração de gás.

Segundo Leidiane, os biodigestores são de um sistema utilizado na Alemanha, porém com custo bem menor, por não precisar de isolamento térmico durante os meses de neve como ocorre na Europa. A adaptação para a realidade brasileira torna viável com investimento menor. De acordo com Leidiane, o projeto de Biogás em Itapiranga é base de pesquisa de várias universidades e empresas que desenvolvem projetos de energias alternativas. Ela diz que é preciso que outras regiões e estados utilizem esta tecnologia para a produção de energia elétrica.

Como funciona o projeto P14 Biogás Itapiranga

Em 12 propriedades rurais, produtoras de suínos, foram construídos 15 Biodigestores com capacidade de mais de 400 mil litros. 12 serão ativados num primeiro momento. São três modelos que estão em experiência, ou seja, de madeira, de metal e de pedras. Os três modelos podem serem feitos em dois dias. Depois da estrutura esses biodigestores recebem uma lona. Ali dentro será depositados os dejetos suínos que passarão por agitação e se preciso aquecimento para gerar o gás. O gás sai das propriedades por gasoduto e segue até a propriedade de Nilo Bourscheidt onde acontece a transformação do gás em energia elétrica por meio de geradores.

O projeto tem três eixos, produção de energia, proteção ao meio ambiente e produção de alimento. Á produção de alimento não é a carne, mas adubo para plantas.

Com a evaporação do liquido a sobra do resíduo solido será processada para virar um poderoso adubo chamado Biochar ou Biocarvão. Para se ter uma ideia, uma tonelada de dejetos pode se tornar pouco mais de um quilo de adubo que pode ser vendido por cerca de R$ 50,00 o quilo.

Biochar é qualquer material rico em carbono obtido de biomassa carbonizada sob baixa atmosfera de oxigênio, para uso como condicionador de solos. Praticamente qualquer fonte de biomassa pode ser carbonizada.

No projeto de Itapiranga, no futuro, também estarão em estudos a produção de biogás para automóveis e também a produção de Biochar com resíduos de animais mortos. Para se ter uma ideia, cada 200 suínos podem produzir dejetos capaz de produzir a quantidade de gás para encher um botijão de 13 quilos, por dia.

O americano Timothy Silberg, que já visitou biodigestores que geram energia até com resíduos de pó de café, ficou surpreendido de como todo esse material produzido aqui não é utilizado para geração de energia. A inauguração no segundo semestre de 2020 vai ser um marco para a geração de energia limpa do Brasil.

Hoje nas propriedades o dejeto suíno é armazenado em lagoas chamadas esterqueiras.

Foto(s): Diógenes Di Domenico/ Portal Peperi

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