04.08.2025 às 15:44h - Geral
A apicultura catarinense, reconhecida mundialmente pela qualidade, deve ser diretamente atingida pela taxação dos Estados Unidos contra o Brasil. A região Sul é a grande exportadora de mel em Santa Catarina, com a presença de empresas de grande porte no ramo. O decreto chamado de “tarifaço”, assinado pelo presidente Donald Trump, estabelece uma tarifa de 50% sobre os produtos brasileiros exportados aos EUA a partir de quinta-feira (7).
Conforme dados da Associação Brasileira dos Exportadores de Mel (Abemel), nos últimos cinco anos, aproximadamente 76% das exportações brasileiras tiveram como destino o mercado norte-americano. Segundo Agenor Sartori Castagna, presidente da Federação das Associações de Apicultores e Meliponicultores de Santa Catarina (Faasc), mais da metade da produção nacional é exportada, e desse quantitativo, cerca de 95% é destinado aos EUA. Dessa forma, para ele, a projeção é preocupante tanto para os produtores e para o setor empresarial.
— Quase 100% dos apicultores são de agricultura familiar. Isso vai refletir fortemente neles, porque não tem onde repor esse mel por enquanto. As empresas exportadoras, um exemplo aqui do Sul de Santa Catarina, que tem duas grandes empresas, estão com grandes estoques que não tem como desovar por enquanto, porque não há uma solução para o setor. Uma situação crítica, que se não resolver, vai ter um impacto muito forte na economia da área da apicultura — afirma Agenor.
O impacto no setor apícola de SC
Santa Catarina é o terceiro maior exportador de mel do Brasil, além de ocupar a oitava posição de produção. As duas regiões que mais produzem no Estado são o Planalto Sul, com cerca de 1 mil toneladas, e o Litoral Sul, com aproximadamente 700 toneladas por ano. Os dados foram levantados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2023. Só no Litoral Sul, são mais de 400 produtores e cerca de 62 mil colmeias.
De acordo com a Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural (Epagri), além dos Estados Unidos, com 80% das exportações, Reino Unido com 10,8%, Alemanha com 4,5%, Bélgica 1,2% e Canadá correspondendo a 1,1%, foram os principais destinos do mel catarinense.
Devido à dominância dos norte-americanos sobre o mercado do mel de SC, é possível que as grandes empresas, principalmente no Sul do Estado, precisem demitir funcionários, além de afetar diretamente os agricultores familiares, que correspondem a pelo menos 80% da produção.
“Diante disso, a ABEMEL solicita ao Governo Brasileiro uma abordagem diplomática e estratégica na condução desse tema, evitando medidas que possam agravar ainda mais o cenário atual. É fundamental priorizar os interesses dos pequenos produtores, beneficiadores e exportadores do setor apícola, que representam de forma diversa e heterogênea a sociedade brasileira”, disse a Abemel em nota.
Mel top 1 do mundo
O mel produzido pela Apis Nativa de Araranguá, do Sul de Santa Catarina, é considerado o melhor do planeta por diversos especialistas. Em abril o mel foi eleito o melhor do mundo em uma premiação realizada em Paris, na França.
A medalha de ouro foi conquistada na categoria “Qualidade” da Paris International Honey Awards, com o mel suave. Essa foi a primeira participação da empresa no evento que é realizado anualmente na capital francesa e reúne produtores de diversos países.
Além da conquista em solo francês, o mel catarinense soma um histórico de premiações internacionais, em países como Austrália, Ucrânia, Coreia do Sul, Turquia, Canadá, Chile e Estados Unidos. Além disso, a iguaria foi eleita a melhor do mundo em cinco edições do World Beekeeping Awards.
O que é o tarifaço de Trump
Na semana passada, Trump assinou uma ordem executiva que amplia e modifica as tarifas aplicadas a diversos países, com alíquotas que, agora, vão de 10% a 41%, a partir de 7 de agosto. Mesmo assim, o Brasil ainda é o mais tarifado por Trump, com uma alíquota de 50%, a partir de 6 de agosto. Depois, entre os mais taxados, vem a Síria (41%), seguida por Laos e Mianmar (Birmânia), ambos com taxas de 40%. Já os menos afetados foram o Reino Unido e as Ilhas Malvinas — os únicos até agora com taxas de 10%.
Segundo a Casa Branca, a taxa de 50% contra o Brasil foi adotada em resposta a ações do governo brasileiro que representariam uma “ameaça incomum e extraordinária à segurança nacional, à política externa e à economia dos EUA”. O anúncio, porém, surpreendeu pela inclusão de quase 700 exceções, retirando diversos setores econômicos da tributação extra. A medida foi encarada como uma “desidratação” do tarifaço e trouxe alívio a segmentos econômicos brasileiros.
Fonte: NSC Total
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