01.08.2025 às 18:20h - atualizado em 02.08.2025 às 08:56h - Agricultura
O número de jovens no setor agropecuário está voltando a subir. Incentivos à agricultura, especialmente para a sucessão familiar, geram cenários atrativos para filhos de produtores rurais. Com breves saídas para estudar em universidades na cidade e retorno ao campo, os jovens produtores investem em ampliações, tecnologia e inovação no campo.
A reportagem da Rádio Itapiranga entrevistou cinco produtores rurais, de Tunápolis, São João do Oeste e Itapiranga. Eles são de diferentes atividades e estão fazendo a sucessão familiar, alguns voltando para o campo e outros seguindo desde pequenos na atividade. O objetivo da reportagem é esclarecer os principais motivos e estratégias por trás do retorno e da permanência na propriedade familiar.
Em linha Bonita, interior de Tunápolis, Adriane Meotti, de 33 anos, e a irmã, Solange, de 28 anos, seguem o projeto iniciado pelos pais há mais de 30 anos. Elas comentam que os pais iniciaram a atuação na agricultura com apenas um animal, produzindo queijo para vender. Hoje, são mais de 60 vacas ordenhadas todos os dias e mais de 150 animais no total da propriedade.
As duas seguiram o mesmo caminho, saindo para estudar. Adriane fez medicina veterinária. Solange cursou agronomia. Elas pensaram em atuar em outras áreas, mas devido ao grande investimento feito pelos pais ao longo dos anos, resolveram continuar na produção da família. Agora, além dos pais, as duas contam com o apoio dos maridos para prosseguir a atividade.
O principal ganho da família é com produção leiteira, no sistema de confinamento. O leite é comercializado com um laticínio de uma cidade vizinha. Adriane aponta algumas dificuldades na produção, especialmente com a variação do preço do leite. A propriedade produz mais de 2 mil litros de leite diariamente.
Além da produção leiteira, a família também atua na terminação de leitões. As duas irmãs possuem filhos. Questionadas sobre a terceira geração da família continuar a propriedade, elas apontam dificuldades. A propriedade é avaliada em torno de R$ 10 milhões, e as irmãs, por enquanto, vão seguir na atividade.
A história da jovem Camila Kuhn e do irmão Eduardo é bastante parecida. Em linha Fátima, no interior de Tunápolis, os jovens de 22 e 18 anos, seguem a mesma linha de atividade dos pais. O foco da propriedade também é na produção de leite. Eles relatam que o vínculo forte com o campo, sendo criados ao lado dos animais, os mantém na propriedade.
Camila chegou a sair da agricultura para trabalhar no setor público, mas decidiu voltar após um período conturbado. Com a mãe machucada, a jovem assumiu parte da atividade, cuidando especificamente da parte da ordenha, com cerca de 40 vacas. A mão de obra é restrita entre a família, sem funcionários. A ideia dos dois é evoluir, automatizar os processos e manter a produção apenas com mão de obra familiar.
Na propriedade em Fátima, a família, além de produção de leite, também atua com plantação de fumo. Apesar de todos conhecerem o modo de trabalho e atuarem quando preciso, as mulheres, mãe e filha, focam na produção de leite. O pai é responsável pelo fumo. Já o filho, Eduardo, gosta do trabalho com máquinas. Camila relata que a participação dos irmãos na propriedade gera momentos especiais para os pais. De acordo com ela, no final do ano passado, com os dois cuidando da produção, os pais puderam ir à praia.
A maioria dos filhos que seguem no campo são homens. Camila segue por outro lado, destacando o esforço e a força das mulheres nas propriedades. Ela compartilha a rotina nas redes sociais, com objetivo de criar o interesse para mais meninas seguirem no meio rural.
Já em São João do Oeste, em Beato Roque, está a Granja Ott. Uma ampla propriedade, com criação de suínos, gado de corte, plantio e a principal atividade, produção de leite. Já são três gerações da família tocando a atividade. Nós conversamos com duas delas, Elton Ott, de 34 anos, e o sobrinho, Gean Carlos, de 18 anos. O pai de Elton iniciou a propriedade na década de 80, com poucos animais.
Hoje, são mais de 150 vacas produzindo mais de 6 mil litros de leite por dia. Além da família, composta por mais dois irmãos de Elton, e o sobrinho Gean, são quatro funcionários. Atualmente, a granja é autossustentável em alimentos e água. Elton ficou longe da produção rural por mais de 10 anos, atuando como eletricista na cidade. Em 2023, com a aposentadoria dos pais, o grande volume de recursos já investidos e a falta de mão de obra, resolveu voltar ao campo.
O jovem, Gean Carlos, é responsável pela produção de gado de corte e lavoura. Ele admite que já pensou em sair da propriedade, mas hoje, cursando a faculdade de agronomia, não cogita a ideia. A família o insere nas decisões da granja como uma forma de manter o jovem por dentro das atividades e focado na sucessão familiar. Com a participação de todos no revezamento das atribuições, a granja ainda consegue manter o número de funcionários reduzido.
Gean e o tio, Elton, falam sobre a estrutura construída e a projeção para a ampliação da atividade. Para os próximos anos, o objetivo é colocar mais de 200 vacas para a produção de leite, além da grande quantidade de terra adquirida para a produção de gado de corte e plantações. São mais de 80 hectares com a família. Perguntados sobre como é a relação entre os irmãos e o jovem, foram claros, muita confiança.
Do outro lado de São João do Oeste, em Medianeira, está a família Wolfart. Quatro irmãos que também participaram do crescimento da propriedade dos pais e hoje seguem a atividade. Guilherme, de 27 anos, há cerca de um ano está à frente da produção de suínos e é responsável pelo controle administrativo do patrimônio da família. A principal atividade dos Wolfart também é a produção de leite.
São mais de 50 vacas produzindo diariamente, todas criadas dentro da propriedade. Guilherme destaca que, após o início na produção, nunca foram comprados novos animais. Eles mantêm a produção de leite no pasto, sem uso do confinamento. Para eles, ainda é viável manter desta forma devido ao grande espaço ao redor da granja. Com a soma da terra alugada, são mais de 90 hectares utilizados pela família para as atividades de plantio, suinocultura e produção de leite.
Responsável pela parte da suinocultura da família Wolfart, Guilherme menciona como foi a evolução ao longo dos anos. Ele comenta que são 1.200 suínos alojados em três estruturas. O trabalho com alimento é realizado de forma totalmente automatizada. A família adquiriu, no ano passado, dois robôs para a alimentação dos animais. Hoje, o serviço está muito facilitado, com cinco tratos diários. Guilherme atua com atenção apenas para o bem-estar dos animais.
Questionado sobre a principal dificuldade na área, Guilherme menciona a falta de períodos de lazer devido as grandes demandas. Com a participação da família, os irmãos ajudam um ao outro, com revezamento de atividades para continuar sem a contratação de mão de obra terceirizada.
A última parada é em Itapiranga, na comunidade de Santo Antônio. Gustavo Lengert, de 21 anos, cursa agronomia e está sendo preparado para assumir a atividade. Ele compõe a quarta geração da família Lengert na propriedade, que iniciou com o bisavô, há algumas décadas. Com foco total na criação de suínos, são 15 chiqueiros construídos, contemplando todas as fases da criação.
Gustavo explica que, com 10 anos, começou a demonstrar interesse em continuar a atividade iniciada pelo bisavô. Por conta disso, a família investiu na construção de novas estruturas, totalizando o número de 15 edificações, mantidas até hoje. Gustavo pretende aumentar a produção, demonstrando ambição para a atividade.
Com o grande recurso investido pela família há 10 anos e a saída do irmão para morar em outro estado, Gustavo resolveu focar na suinocultura. Ele explica que a propriedade comporta 600 suínos focados em gestação. No total, contabilizando toda a produção, são mais de 3 mil porcos distribuídos pelas construções. A cada dia, nascem em torno de 360 animais. A mão de obra possui auxílio de quatro funcionários contratados.
Gustavo considera que, neste momento, a mão de obra é o principal problema para a atividade. Ele pretende seguir na produção, com ambição para evoluir ainda mais. Gustavo Lengert acredita que para dar certo no campo atualmente, a única maneira é profissionalizar a atividade e capacitar os envolvidos. O objetivo é seguido diariamente, buscando honrar o que foi iniciado pelo bisavô.
Foto(s): Ricardo do Nascimento/Rede Peperi
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